Eu nunca fui a preferida dela. Eu dizia até que ela não gostava de mim. Mas ela gostava sim, eu sempre soube que ela gostava.
Ela gostava muito de escrever e gostava muito dos livros espalhados pela casa. Gostava tanto que não gostava de me emprestar.
Ela dizia que gostava, que tudo que era meu era dela, mas era mentira. Ela não gostava de me emprestar os livros.
Eu pegava mesmo assim. E ela vinha e lavava de volta. Ela não sabia passar perfume. Exagerava no patchouli. Ela roubava fotos e eu fingia que não via.
Ela dizia que não acreditava em Deus, mas acreditava. Como eu.
Ela costurava pra mim em azul ou verde pra combinar com meus olhos. E eu queria tanto o rosa que ela sempre fazia pra Pat.
Antes de sair de casa ela trancou as portas. E fora de casa, não queria a chave longe da mão dela.
Fico com a chave, com os textos, com o azul e o verde. E com o cheiro de patchouli, que só hoje, eu entendi.
3 Comments:
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E ela pintava as sobrancelhas com lápis marrom, e usava desodorante de creminhos.
E tomava banho de perfume.
Saudade.
(L)
No dia das m�es fui lev�-la para passar o dia com a minha outra m�e. Tamb�m sou metade filha - tenho duas Marias Helenas. A� nesse dia das m�es, dei at� um susto na v� quando o meu carro beijou a bunda de outro carro. Mas o incidente nem atrapalhou o dia das m�es, afinal n�o nos atrasamos pro almo�o (o almo�o na casa da outra MH, a MH II, costuma sair por volta das 18h). Ela conheceu princip e, da �ltima vez que ligou pra minha casa, disse q ele era um bom rapaz, educado, bonito, atencioso e que gostaria que as meninas encontrassem um pr�ncipe como o princip... De vez em quando ligava pra c� atr�s da Pat ou pra pedir o telefone da garota que foi pra outra cidade. Na verdade, ela devia ter o n�mero anotado. Ou n�o. E tb gostava de falar com a outra MH, a MH I.
Ah, o piano. Tem o piano. Vou deixar que a Pat escreva sobre o piano. Escreve, Pat.
Amo.
Fr� a do meio.