eu não sou caveira, eu sou moleque.

Vocês sabem, já temos a sessão 'se ela dança eu danço'. Agora, está aberta a sessão 'Madame T. pergunta, madame Ç responde' e vice versa.

Começando.

Madame Ç, se você tivesse que escolher um outro nome pra você, diferente do seu original, que nome seria e porque?

Meus cachorros foram pro xadrez. Não teve jeito. Depois de terem apresentado comportamento inapropriado, fazendo xixi nos móveis da minha mãe, depois de terem mordido as canelas das visitas todas, depois de terem arranhado a porta do meu quarto implorando para entrar, depois de terem se jogado na piscina da casa à venda, depois de terem feito mais um pouco de xixi por todos os cantos e quinas, a casa não resistiu e teve que entrar em obras.
E o BOPE teve que entrar em ação. Levaram os pequenos para o xadrez, para que o chão ganhe nova vida, novo sinteco. Enquanto isso, meus três fedorentos ficarão de castigo, repensando sobre o xixi nos lugares errados e todas as demonstrações de má fé que eles apresentaram em nome do amor.
Mas vocês sabem. Eles também são fãns de Paris e de Britney. Estão achando chiquérrimo esse lance de cadeia. Está super em voga. Vogue, vogue. E assim como elas, não tirarão nenhum proveito desse período de clausura. Sairão de lá fazendo muito mais xixi do que de costume.

Assim como Britney e Paris, por mais doidinhos que eles sejam, eles estão sofrendo. Os brutos também amam. Não estão entendendo nada. Estão perto dos rotweilers, caninos perigosos e assustadores.

O coração dos avós está partido. O meu também. E o deles, céus, deve estar em frangalhos.
Difícil isso de reabilitação. Desnecessário isso de sinteco.

Eu fico lendo lá o blog da professora e entro em crise. E então surge a idéia do bolo de fubá na estação de trem. For sale. E ela me diz que eu tenho mais cara de petit gateau.
E fico tensa. Porque entre um bolo de fubá quentinho e um petit gateau, eu fico com o bolo de fubá. Eu sou o samba, o bolo de fubá, a voz do povo sou eu mesmo sim sinhô. E eu vendo a imagem de que eu sou do petit gateau, sem querer, e todo mundo compra.

Mas é isso mesmo. Sou vendedora. Engano todo mundo na maior cara de pau.
But, the point is: eu me confundo na minha enganação e acabo enagando a mim mesma?

Aham.

abre parênteses
Meu tédio daria um livro. Porque todo o tempo demora a passar, cada minuto, cada segundo. A semana demora, tudo é lento, a minha cabeça ferve, mas eu não faço nada. Observo, apenas. Cada pessoa ocupada, cada detalhe de cada rosto, a expressão, um franzir de testa, um riso escondido no canto da boca. Acho que não trabalham. Não sei. Queria saber o que vai dentro de cada um, pra quem sabe me sentir menos só. Achar alguém com as mesmas questões, as mesmas angústias, o mesmo lento passar das horas. Não há. Sou só eu aqui. Me guiando por feriados e fins de semana. Passando pelas segundas, terças e quartas, me distraindo das quintas e sextas. Tentando não sentir aos sábados e domingos, torcendo para o telefone não tocar, para ninguém lembrar de mim. Queria fechar a casa, deitar no sofá embaixo do edredom e dormir. Eu poderia dormir por dias. Até passar.
fecha parênteses

Mulher é assim. Sazonal. Cíclica. Hoje eu acordei atrasada pro trabalho. Nunca acordo atrasada pro trabalho. Hoje eu levei muita patada no trabalho. Patas de cavalo. Não costumo levar patadas no trabalho. Aí, hoje, meus olhos enchiam d´água de 30 em 30 minutos. Ciclicamente. Evidenciando que eu estou próxima ao fim de um ciclo. Ao início de outro.

E assim foi o meu dia. Cinza e frio. Aborrecido. Sem brilho. Sem ginga, sem luz.

Contrastando absurdamente com o meu final de semana, que foi ensolarado e colorido. Que teve samba na Mangueira*. Que teve praia com sol, praia com sombra, praia sem protetor solar.

Aí agora, me dei conta de que hoje, dia cinco de novembro, faz dois anos da morte do meu amigo. Dois anos do dia em que uma árvore tombou sobre ele. Ele era meu amigo do samba. Era meu amigo de laranjada misturada com limonada no cone de papel. Era meu amigo de faculdade. Ele dizia que o primo dele que tinha inventado a gíria "maneiro". Ana, sabe maneiro?, ele perguntava. Sei, hãn? Foi meu primo que inventou, ele dizia.
Ele era meu amigo. Um dos meus poucos amigos. Eu sabia o telefone da casa dele, sei até hoje.

Ele era metido a compositor. E ele escreveu uma música horrorosa chamada Pavê de Licor. Sérinho. Pavê de Licor. E eu perguntava pra ele qual era a música mais bonita do mundo e ele dizia: Luiza. A música que me deu nome. Lua, espada nua, e pavê de licor convivendo em harmonia.

Um cara democrático. Um cara que brilhava.

Tá explicado porque eu passei o dia triste. Deve ser coisa do meu subconsciente. Ou de Disus, sei lá. O fim de um ciclo que não recomeça.


*Depois eu conto da Mangueira.

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