Confesso que a minha primeira reação é uma satisfaçãozinha, assim, encolhida, quase maldosa, quando eu penso que a garota vai ficar sem faxineira. Sadismo sempre fez parte da minha gama de características assim não muito dignas de orgulho. Mas eu nem ligo. Eu costumava ser criticada por ela e por um monte de gente quando me ligavam em um fim de semana e eu dizia que estava fazendo faxina. No início eu ria, depois ficava puta, depois ficava ressentida, depois passava. Acontece que eu sempre fui meio freak com limpeza. E sempre fui meio freak com a idéia de que eu sei fazer muita coisa melhor do que pessoas que eu pagaria pra fazer por mim. Unha, por exemplo. Eu vou ao salão e saio de lá com dedos sofridos e esmalte não tão legal assim. Dura dois, três, quatro dias. Sai tudo. Eu puxo pelinha antes, e me machuco toda. Porque manicure nenhuma nesse mundo de Disus faz unha melhor do que eu. Pode até fazer a sua, desaparecido leitor, pode até fazer a da garota, mas não faz a minha. A minha unha faço eu, a minha cutícula faço eu. Porque eu sei. Depilação, mesma coisa. Faxina, well, também. Acontece que tomar a faxina da minha casa nas minhas próprias mãos não foi uma decisão fácil. Eu não gosto de parar pra arrumar a casa, trocar a roupa de cama, colocar as toalhas pra lavar na máquina ou lavar os banheiros. Eu odeio. Mas até hoje, nunca pisou na minha casa uma faxineira tão legal quanto eu mesma. Tinha uma que veio algumas vezes, mas depois que ela resolveu mexer nos meus sapatos e dizer que a filha calçava o mesmo que eu, e se eu podia dar alguma coisa pra ela, fiquei bolada. Porque o armário não fazia parte da arrumação, e estava bem arrumado. Até por cores eu organizo as coisas. Teve outra que comeu todo o meu chocolate do armário, escondida na cozinha. Ela podia ter pedido, eu daria com o maior prazer. É difícil colocar alguém que você não conhece na sua casa. E eu sempre soube arrumar tudo muito bem. Uma vez por semana, basta, e a casa funciona tranquilamente por seis ou sete dias. Uma questão de organização de tarefas.

Então a garota sente que o chão saiu por debaixo dos pés dela. E provavelmente, antes ainda que eu acabe de escrever isso aqui, já ligou pra meia dúzia de contatos e anotou uns números de celular de cartão, das cleaning ladies todas da cidade grande. Mas eu digo que nem é tão traumático assim. Basta um aspirador de pó. Uma vassoura. Uns paninhos, desses de chão, outro, desses de tirar a poeira. Produtinhos com cheiro gostoso. A parte da roupa é mais complicada. Não vou mentir. Vai ter que rolar um desapego nessa hora. Porque calça jeans que vai pra máquina com freqüência, destrói rapidinho. Casaquinhos fofos fazem bolinhas. Eu dei pra ela um papa bolinhas uma vez, mas acho que ela não estava suficientemente amadurecida pra entender o presente e todo o significado dele. Era a Lene que usava o papa bolinhas. Talvez agora ela esteja pronta para receber este conhecimento.

Madame Ç não vai gastar seu latim com um Madame Ç sabe, Madame Ç explica. Madame Ç sabe, fato. Mas explicar é outra história. Madame T não tem em sua natureza essa coisa de arrumar a casa. Ela é prática. Ela acha o maior especialista no assunto e põe pra assumir a tarefa. Explicar seria bobagem. Ela nem ia usar os ensinamentos, after all.

Então, ficam os votos de que ela ache uma substituta para a Leneleide. Uma que pique as coisas na geladeira, passe o papa bolinhas na roupas, lave e passe. Seja de confiança, não toque nos sapatos dela. Não coma as guloseimas no armário da cozinha, não quebre as suas xícaras legais e não esconda a poeira embaixo do tapete. É importante entender como funciona a natureza de cada um. Se a tarefa se mostrar difícil, se Lene, ao contrário da minha crença de que ninguém é insubstituível, for realmente única e especial, ela vai tratar o braço estragado e vai voltar. Pergunta pra ela se lá no sindicato das cleaning ladies não tem ninguém de confiança. Deve ter. Uma espécie de backup para emergências. Uma filha, sobrinha, alguém recém chegada do norte ou nordeste, com um daqueles sotaques arretados, querendo fazer a vida no sul, em sumpolo.

Se nada disso funcionar, nada mesmo, ninguém aparecer, nenhuma viv’alma com coração bão e caráter forte, eu faço um post daqueles bem grandes, ensinando como as coisas funcionam. Palavra de Madame.

help wanted.

Minha gente. Meu povo. Meus companheiros. Vos digo que fodeo geral em verde amarelo. A pátria está ameaçada.
Eis que ontem à noite meu telefone vibra, vibra, vibra. Vibra e vibra mais. Contrariada atendo.
Era a Lene. Lene já foi citada nesse blog. Lene, a responsável pela manutenção da minha gaveta de calcinhas. Lene, a responsável pelo giro do meu guarda-roupas. Lene, a responsável pela tatuagem de ferro de passar roupa no carpete do meu quarto. Lene, a gerente de suprimentos de produtos de limpeza. Lene, a campeã sulamericana em corte de melancias. Lene, a gestora de posições de bonecos inanimados. Lene, medalha de bronze em Sidney nas artes com Durepox. Lene, inexplicável.
Era ela ao telefone.
Logo que atendi, presumi: f-o-d-e-o-g-e-r-a-l.
Lene, minha musa, vem enfrentando uma gravíssima tendinite no braço direito, fruto de muito esforço e empenho nas categorias supracitadas. Lene, que já havia largado várias diárias para dedicar-se à fisioterapia, veio por fim, declarar que o dotô mandou ela fazê fisioterapia tododia.
De segunda à sábado. Ahaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaam. Esse sábado eu não sei não, mas ela pode ter exagerado um pouquinho para que eu ficasse com pena dela. Como no dia em que ela tatuou o tapete. Ela disse também que cortou o dedo. Pra balancear a possível insatisfação da freguesa. Gênia.
Enfim, Lenileide precisará se afastar da competição da categoria Diária. Disse que chorou demais. Que vai ficar doida da cabeça sem trabalhar, que nem bijouteria ela poderá fazer.
Esse mês ela ainda vai lá. Vou tentar um golpe derradeiro. Não posso adiantar pra vocês, minguados leitores.

Je suis desolée. Je ne sais pas passar roupá.

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