Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, ah, seria tão melhor. Porque eu deveria agora, enquanto escrevo, estar arrumando a gaveta aqui ao meu lado, com papéis, documentos, caixinhas e fotos. Porque tem coisas ali que precisam ir comigo em viagem amanhã. Coisas que eu não sei onde estão e que, se estivesse arrumando a gaveta, como eu deveria, eu saberia. Eu tenho que tirar do chaveiro a chave do porta-correspondência, que fica na portaria, para o meu irmão poder pegar a conta da internet e a mensalidade do francês enquanto eu não estiver por aqui. Deveria recolher o material do francês, meus dicionários todos, pegar os cds que eu quero comigo, os dvds com seriados gravados, essas coisas. É muito tempo fora, penso. E se eu não levar alguma roupa que eu decida usar, tipo, na quarta feira? Mas como é que eu posso saber hoje, sábado, que roupa eu vou querer usar na quarta feira? Será que vai estar frio? A cidade siderúrgica é mais fria, e também mais poluída. Hum, preciso levar meu shampoo, o de pitanga. Secador de cabelo, vai que eu tenho um bad hair day? Maquiagem, casaquinhos, quero as minhas bolsas comigo, mesmo que lá eu decida passar a semana inteira usando só uma. Pijama. O pior é que é de lá que eu vou sair, na sexta feira que vem, pra visitar Madame T na selva de Pedra. Lá é mais frio ainda. Então, preciso levar um pijama menos quente para minha primeira parada, e um mais quente para a segunda. E se São Paulo for quente no verão? Não vou a SP há mais de 10 anos, minha memória só me traz a idéia de lugar frio, e com garoa, sei lá. Meu guarda chuva está na casa da Frá, há meses, porque aqui eu tenho carro e de carro eu não tomo chuva. Mas lá em SP pode ser que chova, e então eu estarei despreparada. E se fizer sol? Será que é um sol desses que deixa frio onde está sombra ou é tipo esse aqui do Rio, que queima a mufa em pleno inverno, hoje? Estou de camiseta, e agosto ainda nem terminou. Eu gosto de inverno, gosto de frio, andei comprando uns casaquinhos tão fofos, nem seria justo não poder usá-los na minha primeira ida a São Paulo depois de tanto tempo. Da última vez que eu estive em São Paulo, vejam só, ganhei do meu pai uma barbie, um livro dos contos de grimm, que tenho e adoro até hoje, e uma borracha amarela que virou de estimação, e que está, agora, no meu estojo do francês. Não sei bem como vou encarar a selva de pedra. Faz tanto tempo. Preciso levar calças e quero MUITO levar as botas novas. Uma marrom e uma preta. Não vão caber na mala, fato. E se estiver quente, com sol? Eu tenho que, para essa possibilidade, estar munida com sapatinhos fofos, sandálias, sei lá. Meus casacos amassam na mala. This sucks. Não tenho pijamas suficientemente quentes pra um frio desses. E são dois. Meias. Saias seriam uma opção. Mas aí eu precisaria levar sandálias que pudessem ser usadas com calças ou saias. Eu fico irritada porque ligo para a Madame e ela não atende. Deve estar na academia, a louca. Malhando num sábado. A Louca. Preciso saber do tempo, da previsão, do tipo de programa que ela planejou, pra saber o que eu levo, porque a mala tem que ser feita ainda hoje, e tem que servir para meus dois destinos, a cidade siderúrgica e São Paulo. E eu não sei o que levar. Que tipo de mala, se de rodinhas, se não. Levo toalhas? Toalhas ocupam TANTO espaço na mala. Preciso levar roupa de sair à noite? Existe roupa apropriada para HH em São Paulo? HH é happy hour, um apelido carinhoso que no rio não diz absolutamente nada. Saídas de fim de semana configuram hh, ou só quando é durante a semana, pra fugir do trânsito? Eu moro a 15 minutos do trabalho, nem sei o que é trânsito. Na cidade siderúrgica, 15 minutos é o que uma pessoa leva para ir de um extremo a outro, passando pelo centro, com todos os sinais fechados. Ou era. Faz tanto tempo. Nem sei.
Preciso saber o que vestir, o que levar. Preciso salvar os meus favoritos pra ter acesso aos blogs de outros computadores. Meu delicio.us está mais bagunçado que essa gaveta fechada aqui do lado, a que eu precisava arrumar. Tenho malas pra fazer, odeio tanto isso. Odeio fazer malas, pagaria alguém pra fazer por mim, juro. Quero ver televisão, comer pipoca e dormir um pouco. Mas tem as malas, e a bendita gaveta, céus.


Se a minha cabeça funcionasse de forma mais simples, seria tão melhor.

Eu preciso dizer que, nesses últimos dias antes das tão sonhadas férias, eu operei a 17% da minha capacidade. É verdade. Um sono absurdo tomou conta da minha pessoa, os dias foram longas esperas pelo passar das horas. E eu produzi pouco, quase nada. Tem dias que eu faço mais, tem dias que eu faço menos. Eu tenho feito menos, ultimamente, muito menos do que eu poderia. A verdade é que eu estou bem cansada mesmo, um cansaço estranho, que nem é por falta de sono não, é falta de, sei lá, brilho. A gente tem uma brincadeira no trabalho que imita uma propaganda, de algum carro offroad, onde as pessoas precisam ter mais contato com a natureza. E tem uma planta num canto, e as pessoas passam e ficam muito impressionadas com a planta. E o comercial termina com a fala de alguma pessoa, quase que em choque, exclamando “Há vida neste vaso!”. E sempre que alguém está animado com algum projeto, rola a mesma brincadeira, do “Há vida neste vaso!”. E não há vida neste vaso, no meu. Eu sou uma espécie da planta, seca, no canto da parede, desmaiada, aborrecida, contando o passar do tempo e fingindo que não estou ali. Isso me deixa um pouco frustrada, porque afinal de contas, eu tenho tanto a oferecer, e sou tão absurdamente cheia de idéias, e até mesmo acima da média, sem falsa modéstia. Mas eu fico ali, operando a 17% da minha capacidade, porque só me exigem mais ou menos 20%. E esses 17% são a minha forma de me rebelar contra o sistema, dizendo que se é pouco o que querem, então eu faço menos ainda. Rá. Quero ver quem ganha esse joguinho.

Se me quisessem a 100%, eu daria 110%. Mas é assim mesmo. As pessoas têm o que merecem. Não mais do que isso.

Minha mãe me ligou e disse havia me mandado um e-mail. E uau. É bronca mãe? E eu lá tenho porque te dar bronca menina? É de chorar mãe?

Era. Sempre é de chorar quando ela escreve. E ainda bem que ela escreve. É a herança que me serviu mais que tudo em vida e que ficará para sempre, para sempre e para sempre.

E eu passei um final de semana um pouco insegura. Mas acabou a insegurança. Quem fica insegura com um e-mail desses?

Mas mãe. Esse era meu e-mail do trabalho. Se eu lesse isso no trabalho daria um vexame. Ainda bem que você me avisou.

"
Madame T
No sábado de ontem, em que eu me encontrava completamente igual à própria,
passei o dia em casa, de roupa esfarrapada, quieta, cansada, cansadíssima,
exaurida até as entranhas. Só queria ficar quieta, olhar os cachorros lindos
depois da beauty section, alisá-los, catar as pulgas e carrapatos cíclicos,
ler meus eternos artigos e recortes prometidos, jogar fora aqueles papéis com
resumos bancários e propostas de aplicações jamais feitas, ver novela, gnt,
tomar café. A casa em volta perdeu seu formato, é um mundo de placas de gesso
e tábuas e pedaços de fios e a minha cabeça tem que, aos trancos, vomitar
soluções pros novos arranjos, pensar nas cores, nas flores, nas luzes, ainda
bem que disso eu gosto. O shangrilá é a minha caminha velha, aliás, sempre
foi, e lá eu me recolho e tento colar os cacos dos trancos que a vida sempre
dá, inevitável.
Meio da tarde, pai com fome, produzi miojo com virado de ovo e frango
paulista dormido no freezer, incrivelmente delicioso. Sobremesa de figada
com queijo da estrada que me havia trazido há quase uma semana de Sampa e
deixado minha Madame T no trabalho dando uma de braba, como dizem vocês,
braba é o caralho, que eu sei, mas tem o leitinho das crianças que eu também
sei, pois fiquei até às 3 da manhã lendo o blog, sozinha aqui no CIC,
lutando entre o choro e o riso que Madames T e Ç provocam na alma das mães.
Vontade de beijar muito as duas, de fazer carinho, de dizer como o mundo é
lindo e tem que obviamente sorrir pra duas meninas como essas.
Quem lê inadvertidamente o blog não sabe de nada. Eu sei. Sei com dói tudo
pra quem tem alma como a de vocês. Muuuuuuuito orgulho das duas. Tenho
certeza que Madame Ç vai adorar a casinha e que vocês vão ter um
fim-de-semana ótimo, quem dera estar por perto.
Fui dormir com a angústia de um choro no avião que eu desconhecia, com a
informação de que Madame T não gosta de telefone (acho que eu já sabia), vou
fuçar a casa toda e ver se encontro e me enrosco num possível vestidinho
velho de malha, a cara de Madame T, que ela sempre usou pra ir à praia, à
piscina, pra ficar quieta e ir carpindo as suas dores, será ele o vestido
dos sonhos que sentou na relva sob o sol e sob a sombra? E eu que nunca
soube fazer bolo da fubá....
Amo tanto, tanto, tanto. Duas da tarde. Ainda dormirá a minha criança?"

Quando eu tinha uns 15 anos fiz o terceiro, o quarto furo, o quinto furo na orelha. O sexto, que o farmacêutico não entendeu direito, era muito lá em cima, na cartilagem. Não fazia muito sentido àquela época. Sempre adorei aquele furo, apesar dele ter caído nas graças desse povo desse meu mundo. O mundo é meu, notem.
Pois então. Eventualmente eu lembrava que ele existia e me perguntava quando seria que eu tiraria ele dali, afinal de contas, fato que um dia ele não fitiria so well.
E um dia, há bem pouco tempo, no banho ele se desprendeu de mim. Fato inédito. Decidi que aquele seria o momento.

Parágrafo.

Faz pouco tempo que eu deixei de ser uma pessoa verdana 9 nos meus e-mails do sirviçu. Sou agora uma pessoa arial 9.

Falaí. Tô muito careta.

Esta semana, especialmente essa semana, eu perdi a minha paciência com telemarketing. Eu até vinha tentando lançar a personalidade fofa, entender que aquelas pessoas são realmente muito fudidas por trabalharem em cabines apertadas e terem pouco mais de 5 minutos por dia para comer/ir ao banheiro, e que não é à toa que uma empresa precisa criar estratégias pra motivação de equipes. Eles recebem um zilhão de “nãos” na cara, todos os dias, e ainda assim te ligam com a maior paciência, torcendo mais que tudo pra ticar o quadradinho ao lado do nome de cada cliente com uma marquinha positiva. Não sei se eles ganham por hora, imagino que por produtividade não seja, mas tenho que conter os bocejos ao pensar nas aspirações de uma pessoa que fale o dia inteiro com estranhos predispostos a tratarem-na como lixo.

No início eu dizia “não”, e desligava. Me aconselharam aqui no trabalho a desligar sem nem mesmo dizer não, assim, na cara da pessoa. Mas a outra Madame havia me dito que, até que eu diga não efetivamente, fica rolando um “pending” ao lado do meu nome, e eles vão me ligar de novo. Eles sempre ligam nas horas mais inoportunas mas, cá entre nós, existiria algum horário que fosse oportuno para atender telemarketing? Sempre digo que estou no transito, ou no almoço, ou no trabalho, que não posso falar, que estou no enterro da minha tia-avó, qualquer coisa que faça com que o infeliz se sinta mal, muito mal mesmo. Mas aí eu fico pending, e eles sempre ligam de novo. Não tenho interesse em promoções para celular, nem em saber como aproveitar os descontos da Embratel. Daí o espertinho surge com a seguinte pérola: “Você não gosta de economizar dinheiro?” Minha chefe outro dia disse que respondeu que não, que era louca e rasgava dinheiro mesmo. Quero até copiar essa idéia, é realmente bem boa. Eles sempre fazem perguntas que te obrigam a concordar, mas isso aí é técnica, e eu tenho preguiça, e caio para a grosseria mesmo.

Me ligaram do Credicard, há coisa de 3 ou 4 semanas atrás. Sempre a mesma ladainha. Por favor, eu gostaria de falar com a Madame Ç. É ela, respondo, tomando fôlego para o fora que vou dar. Olá, Madame Ç, primeiramente bom dia, aqui quem fala é a Zuneide da Credicard, como vai a senhora? – Me ofende me chamando de senhora, me diz um nome que me obrigaria a perguntar de novo. Ela não está interessada em saber como eu vou. Prossegue: A senhora utiliza cartões de crédito no dia a dia? Não, respondo, odeio cartão, odeio dívidas, tenho pra mim que isso é coisa do Demo. Ela continua a conversa e, só porque ainda estou zonza de sono, eu a deixo continuar, esperando a próxima chance de dizer não. OBVIO que eu me contradigo, e falo que tenho, sim, cartões, e que apenas não estou interessada em adquirir outro. Zuneide se ofende, vejam só, e tenta me pregar uma peça: Mas a senhora disse que não usava cartões! Essa é a hora que eu digo que não, e acredito sinceramente que saí da listinha de pending e que estou livre da Credicard. Ledo engano.

Recebo uma carta anunciando o cartão, rasgo e jogo no lixo. Recebo outra, agora com prazo, dizendo que eu vou perder a super mega hiper promoção incrível feita exclusivamente pra mim. Dane-se. Rasgo. E aí, sábado passado, matando aula de francês porque cheguei em casa de madrugada, toca o telefone. Me acorda. O relógio marca 8h03 da manhã. Reúno algum bom humor, achando que seria minha pobre mãe preocupada, querendo saber se eu cheguei inteira em casa. Não. Era a Zuneide, do Credicard. Olá, dona Madame Ç, primeiramente bom-dia, nós estamos efetuando essa ligação para apresentar à senh..... – Soltei um berro no telefone, JURO. Falei: Sábado, 8h03 da manhã. Vocês estão malucos? Vocês, de telemarketing, estão loucos? Sábado, 8h03 da manhã! Zuneide percebe a grande falha e pede desculpas, e pergunta, assim como quem não quer nada, quando seria um BOM HORÁRIO pra falar comigo sobre o cartão CREDICARD. Nunca, não me liguem mais. Vocês perderam a noção de limites!

E, resignada, tenho certeza de que Zuneide ainda não desistiu da minha pessoa. E hoje, nesse momento, eu digo que nunca, em hipótese alguma, eu terei um cartão Credicard. Por causa dela. Da Zuneide.

Hoje, só hoje, eu gostaria que as horas voassem. Hoje não, amanhã e depois de amanhã também. E aí, segunda, terça e quarta. Porque quinta é o meu primeiro dia das minhas primeiras férias, as primeiras merecidas com o trabalho, as primeiras depois de um ano e meio muito cheio de informação, as primeiras depois que o MBA dos infernos acabou e as primeiras que eu realmente quero e preciso. E eu fiz milhões de planos, dos mais divertidos aos menos, com passagens por dentistas, oftalmologistas e afins, com extreme makeover agendado no salão, dietas programadas. Estou baixando todas as séries que o tempo me negou nesse período, a última temporada de ER, House, Greys Anatomy e tantas outras. Não vou conseguir ver nem metade, mas eu quero, quero mesmo, preciso.

Vou me aboletar na casa dos meus pais, onde as refeições seguem horários e são equilibradas. Onde eu até encontro chocolates, onde é mais frio, e há quem lave/passe minhas roupas. Vou cortar a comunicação com os demais, nada de MSN, nada de Orkut. Mentira. Mas seria bem bom. Vou esquecer da existência de alguns infelizes que só fazem me dar nos nervos ultimamente. Pensar na vida e assistir temporadas antigas de Seinfeld e Friends. Colocar a locadora em dia, assistir Marcia Goldschmith (ou whatever), Gaspareto e novelas mexicanas no meio da tarde. Malhação. Vou ver quem diabos é Romulo Arantes Junior, ou filho, ou sobrinho, o tal do moleque que pegou os travestis há um tempo atrás. Vou rever meus escritos do francês, assistir filmes sem legenda, retomar contatos importantes, por assim dizer. Atualizar meu currículo porque, sabe como é, nunca se sabe. E eu ando bem cansada mesmo. Das pessoas, em geral, de uma boa parte delas.

Vou visitar a Madame na selva de pedra e fazer um esforço sobre-humano pra não reclamar da vida. Vou tentar não gastar dinheiros, mas vou trocar o som do carro. Gravar CDs novos, essas coisas. Reassistir Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças. Adoro tanto esse filme. Talvez eu pare pra ver uns clássicos, mas eu nem acho que vai dar tempo. Eu podia fazer sabe o que? Ir numa vidente, ou coisa que o valha. Saber um pouco do futuro, acreditar em previsões felizes, fazer as unhas. Tomar banhos de espuma, assistir um pouco mais de televisão, descobrir mais alguns blogs legais pra ler. Ler os históricos de blogs recém descobertos. Ler no sol. Comprar bombons de banana que só vendem no shopping da cidade siderúrgica. Pra depois morrer de culpa por ter comido tantos, e em seguida me desculpar porque eu estou de férias, e eu mereço esses mimos. Eu realmente mereço.


Nesse final de semana eu aprendi muita coisa. Eu entendi o que aconteceu no acidente da TAM. Eu sei o que é um reverso, eu entendi o que o piloto quis fazer sem sucesso. Eu, embora sempre tenha sido uma negação em física, entendi a importância de cada peça do avião na hora do pouso. Porque meu pai me explicou. Se estivermos sentados em uma mesa, se houver papel, haverá uma aula. Pode ser aula de qualquer coisa. Haverá uma aula. Sei tudo sobre o funcionamento de ar-condicionado. Entendo perfeitamente o porquê do bendix do meu carro não funcionar às vezes. E se não tem papel, ele ilustra as coisas equilibrando facas e garfos e tudo mais que houver disponível na mesa em copos e saleiros e jarras e no nariz de quem estiver por perto. E numa dessas mesas, nesse final de semana, falávamos sobre a vida, sobre coisas que são muito mais complexas do que o insucesso de um pouso, e então ele faz a seguinte declaração: “eu, ao longo da minha existência, com toda a minha formação, curso de escola naval, comando do estado maior, engenharia, combate a incêndio, posso te dizer que eu ainda não entendi nada”. Quem conhece meu pai pode imaginar ele falando isso. Ele é engraçado sem querer. Muito engraçado. Ele diz que o avô dele era filósofo. Ele diz assim: ‘você pensa que eu to brincando? Meu avô era filósofo, rapaz’.
O dia do papai foi ontem. Minha avó sempre me lembra que dia dos pais é dia do pai e da mãe. E meu pai veio à SP pra me mostrar que nada, nada do que eu compre de presente pra ele, vai ser melhor do que as canetas e os papéis sujos de comida onde ele vai desenhar coisas que ele ainda não entendeu.
Vocês todos, leitores desse blog, vão me desculpar, mas o meu pai é melhor do que o de vocês. E tenho dito.

Bebel: presta atenção. olha só como eu sou habilidosa.
Amiga da Bebel: habilidosa?
Bebel: é menina! qué dizê que eu sou esperta. isso é coisa de português com etiqueta.

Madame Ç vai dizer que isso não é post. Madame Ç vai reclamar. Pode reclamar quanto a senhora quiser. Isso é post. É post Madame T style. Post de português com etiqueta.

[uma menina aí] diz:
Seus amigos escrevem bem.
[uma menina aí] diz:
Vcs fizeram algum tipo de curso Como postar em Blogs - em dez lições?
Madame T diz:
que amigos especificamente?
[uma menina aí] diz:
Velma (uélma ou elma, sei lá ), e a madame Ç, e o Klein
Madame T diz:
não. na verdade a gente só é amigo porque a gente escreve bem.


Aqui não tem espaço pra modéstia. Tem que ter catiguria e saber portar.

Enquanto isso...

[Madame Ç] diz: “É melhor a gente confessar logo. Senão capaz que morre engasgada.” (mary w)
[Madame Ç] diz: a do ro
Madame T diz: a do ro muito
[Madame Ç] diz: ela tem muita licença poetica
[Madame Ç] diz: ela escreve errado porque PODE
Madame T diz: exato
[Madame Ç] diz: porque ela pensa certo
Madame T diz: ela sabe que esta errado
Madame T diz: e ela sabe que a gente sabe.


Comecei a ler mary w nem sei há quanto tempo. Só passei o link pra madame quando ela começou a descobrir blogs, mais de um ano depois de mim. Isso foi, talvez, de um ano pra cá, o que me faz supor que eu leio mary w há mais tempo. A questão é que, lá nos meus favoritos, tem um número 1 do lado do nome do blog, só pra me assegurar que nenhuma reorganização de links do meu Internet Explorer vá jogar esse endereço mais pra baixo. O número ao lado garante que seja dele o primeiro lugar, porque ele é disparado o blog que eu mais comento (com as pessoas), e é o único que eu já imprimi um post, só pra mostrar pra outra madame, que me esperava no restaurante, e não entenderia o brilho do que eu queria contar sem ter lido o texto antes.

Pois bem. No dia em que a Mary comentou o meu post para a JK Rowling, e que a gente se deu conta de que ela lia, sim, isso aqui, sabe-se lá como, sabe-se lá desde quando, a garota ligou lá de São Paulo pra contar, meio aos gritos, dizendo que tínhamos atingido o estrelato. O comentário era um mero “Obrigada”, mas confesso que eu gostei de ter essa confirmação, assim, pela primeira vez. E aí, na semana passada, estou eu lendo os posts, e me dou conta que, além do novo layout, agora todo dedicado a Harry Potter, estamos, eu e a Madame T, sempre a discordar, linkadas na página dela. Isso sim é atingir o estrelato, pensei. Ganhamos um espaço. Fomos catalogadas como Bellatrix Lestrange. Seja lá o que, ou quem for essa criatura.

Pois bem. Eu já disse por aqui que não leio Harry Potter. Nunca li, não tenho nada contra, etc, etc. Mary lê, e depois das profundas análises que ela andou fazendo sobre os personagens, até fiquei instigada a comprar, quem sabe. Adoro personagens bem criados, e se a tal da JK faz assim, pode ser que eu leia, então. Mas enquanto pessoa que AINDA não leu nada de Harry Potter e viu apenas o filme um, não vou mentir. Não faço a mais remota idéia de quem seja essa tal de Bellatrix Lestrange. A outra garota ponderou que devemos ser periferia, já que nem eu e nem ela sabemos de quem se trata essa categoria à qual pertencemos. Pra mim, personagens de Harry Potter são o próprio Harry, a Hermione querida e o Rony, um fofo. Se não somos um dos três, não sei de mais nada. Mas tudo bem, fico feliz. Daí me dei conta de que nem Harry e nem Rony são nomes de categorias. Ao que tudo indica, todos os personagens que viraram categorias são mulheres, e então, segundo esse principio, Bellatrix vem em terceiro, depois de Hermione e Minerva. Seja lá quem for Bellatrix, tenho que me informar mais sobre essa criatura.

Eu sei que a Hermione e o Rony não mataram a Bellatrix, e que isso deve ter sido bom, porque a alma não foi rasgada, e tals. Não tenho a menor idéia, mas imagino que rasgar a alma deve ser mesmo algo ruim. Isso tudo eu sei por post. Imagino que, então, no meio dos zilhões de mortes do ultimo livro, Bellatrix tenha sido poupada, de alguma forma. Ou não. Eu achei que quando a garota disse que estávamos linkadas na Dumbledore dos blogs do mundo, ela se referia à escola, imaginem. E quis tirar onda, porque descobri que a escola é Hogwarts. Isso eu aprendo lendo Mary, não vendo Harry. Mas a garota disse que essa Dumbledore na verdade é um velho, e ele é tipo o mestre dos magos. De mestre dos magos eu entendo. Eu só queria saber who the hell é Bellatrix.

Sonhei com o meu quarto, não esse, o lá da cidade siderúrgica, onde cresci, onde moram os meus pais, a minha avó, e onde está enterrado o meu cachorro. Estava em um grupo, fazendo um trabalho, desses bem de colégio, com papéis coloridos e gente reunida, sentada no chão, fazendo da cama uma mesa, a mesa de trabalho. Olhei pela sacada e vi o céu. Estava estrelado, e eu quase podia identificar pelo nome as constelações que nem conheço. As estrelas faziam desenhos, e um desses desenhos se moveu formando a figura de um homem, um esqueleto. O esqueleto desceu do céu, e eu pude ver que ele era suspenso por cordas, daquelas que suspendiam Ethan Hunt em Missão Impossível, o primeiro dos filmes. Ele vinha descendo e de repente parou na sacada do meu quarto. A essa altura, nem era mais um esqueleto, era um homem coberto com um uniforme branco, igualzinho a um power ranger. Estava filmando um comercial para a televisão e entrou filmando no meu quarto, e de repente eu era parte do comercial. Eu ficava constrangida, mas participava meio fingindo não ligar, assim, meio blasé. Me assisti na televisão e fiquei satisfeita com o resultado, me achei bem natural, bonita, até. No comercial que o power ranger que desceu das estrelas ia filmando. E então eu saí de casa com os meus papéis coloridos, em direção a uma rua bem conhecida lá na cidade e, ao tentar tirar minha câmera da bolsa pra fotografar a lua, que estava linda, deixei os papéis caírem. O Lázaro Ramos, que vinha passando, me ajudou a recolher os papéis. Eu agradeci, porque sou moça bem educada.

Pedi férias no trabalho.

Mensagens mais recentes Mensagens antigas Página inicial