Os dias da garota são pouco movimentados. Às quintas então, por conta de compromissos, ela perde o prazo do fechamento do blog. Eu tenho um texto da garota, um dos preferidos dela. De um email que ela me mandou num momento em que o mundo resolve girar em sentido anti-horário. Eu chorei de soluçar no trabalho esse dia. E todos sabem, não se chora no trabalho. É proibido.
Segue o texto da garota, com todos os direitos reservados.

Anne Louise.

Achou que eu tinha acabado, é? Não. E você ficou por último porque o seu email é ainda maior, e eu não vou te poupar de absolutamente nada.

Você me conhece bem. Eu me lembro do primeiro dia em que almoçamos juntas, lá no Pão da Mata. Uma cinza do cigarro da Chris voou direto na minha bolsa vermelha da Cantão e fez uma marquinha. Procurei não dar importância a isso. Mas você sabe que eu dei. No banco da frente do carro do Beto entrou uma garota de óculos escuros que cobriam quase que seu rosto inteiro. Mal humorada, reclamando muito de alguma coisa que estava incomodando no trabalho. Foi a primeira vez que ouvi o termo Monkey Job. Termo esse que se tornou algo tão familiar, no meu próprio trabalho.

Você me inibia, me acuava. Falava alto e estava sempre muito certa de tudo. Como eu poderia discordar? Então, fiquei só observando. E, de alguma forma, entre net users e chocolates quentes, entre sessões inspiradíssimas de teorias na hora do almoço, ficamos amigas. Não consigo dizer quando isso aconteceu. Nem como. Não me lembro de quando finalmente decidi discordar, só pra ver o que acontecia. Não me lembro quando você passou a me ouvir, e a dar valor ao que eu dizia. Eu, quando te conheci, sei lá como, mas já sabia que você teria alguma importância na minha vida. É tão raro encontrar alguém que consiga colocar em palavras as próprias loucuras com tanta clareza. Eu achava que só eu conseguia. Pedante, né?

Pois bem. E lá estávamos nós, no telefone, no messenger, no net user, nos emails copiados de forma oculta, que eu, brilhantemente respondi a todos e te deixei numa situação difícil. Lá estávamos nós gastando uma fortuna em bolsas lindíssimas, ou casaquinhos fofos na Zara. Lá estávamos nós, um carro seguindo o outro, sabe-se lá pra onde.

E eu, por causa daquela história nojenta da L., tinha perdito toda a fé nas pessoas. Estava certa de qua ninguém nunca iria ser legal comigo só mesmo por ser legal comigo. E lá estava você no Detran, dentro do meu carro, esperando comigo pra fazer a vistoria. Eu jamais ousaria te pedir isso. Imagina, tão chato... Não precisei. Você disse que ia comigo, pra me fazer companhia. E, no meio dos Big Macs, da batata frita crocante e da Coca Cola gelada, eu percebi que estava errada e que sim, eu tinha uma AMIGA. Amiga com letras maiúsculas, com todo o clichê que a situação merece. E você nunca vai fazer a menor idéia do que aquilo, do que aquele dia significou pra mim. E eu te agradeço por isso.

Depois veio a fase academia, com as maiores discussões na esteira. E quando a gente briga, a gente briga mesmo. E o mais legal é que, mesmo depois da maior discussão, eu consigo olhar pra você, sorrir e saber que está tudo bem. E que nem por isso tudo o que eu disse perdeu o sentido. Você ouviu, e eu ouvi. E nada muda a nossa amizade. Obrigada pelas discussões na esteira, e pelas discussões no telefone, e por todas as outras também. Obrigada de verdade.

E cá estamos nós. Ontem eu vi você chorar por minha causa e eu sei que você sente muito que tudo isso tenha acontecido. E eu sinto também. Sinto pelos nets que deixamos de trocar hoje e pelos que não trocaremos amanhã. Sinto por não poder olhar pra trás e te ver trabalhando. Mas, me responda só uma coisa. Como eu posso amaldiçoar o Shoptime se ele me deu você? Uma amiga de verdade, que briga, que discorda, que grita e que tem defeitos. Eu comprei esse pacote e não tenho absolutamente nenhuma reclamação a fazer ao fornecedor. Eu gosto de você pelas suas qualidades e pelos seus defeitos, cada um deles. Eu gosto de você porque você me conhece bem, porque você me entende. Porque basta um olhar e eu sei o que você pensa. Porque você é inteligente, justa, leal. One of a kind, como dizem. Unique. Porque ficar sua amiga me curou de um comportamento doentio de profunda descrença. porque hoje eu sei que o mundo tem gente legal, gente que vale à pena, basta ter a sorte de esbarrar com elas no caminho. E essa sorte, eu tive. E, mais uma vez, obrigada. E ninguém no mundo, talvez só o Thiago, deseje mais a sua felicidade do que eu. E porque eu tenho certeza de que ficaremos velhinhas e ainda seremos amigas. Que tipo de questões nos moverão daqui a cinqüenta anos? A gente tem tempo de sobra pra descobrir. Será que a gente ainda vai comprar casaquinhos? Xales, talvez? Não importa.

Nesse momento, Anne Louise, você é a minha pessoa favorita. Obrigada por tudo.

Faltaram virgulas, né? As idéias se atropelaram, né? Não tem problema, você me entende. Você é uma das únicas pessoas no mundo habilitadas para tal.

Vamos tomar um chocolate, vamos reclamar da vida e maldizer as pessoas? A hora em que você quiser. Me liga, eu não estou fazendo nada mesmo...

Um beijo.
Quastrança.

Isso foi dia 08 de junho de 2005.

1 Comment:

  1. Anónimo said...
    O texto é bom mas ela rouba no Master.

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