Vou contar como tudo começou. Mentira, não vou contar nada. Vou acelerar a história, dar um forward para a época em que o mundo corporativo levou a garota pra São Paulo. São Paulo sucks, eu disse. Minhas memórias de São Paulo se resumem a finais de semana na Vila Mariana, na casa da Tia Dadá, velhinha mais que querida, mais que velhinha, tia-avó. Íamos eu, meu pai, minha mãe e minha irmã. Meu irmão ainda não era uma pessoa nessa época, o que quer dizer que eu era bem pequena, porque sou só sete anos mais velha que ele. Eram finais de semana frios, meio que chuvosos. Ganhávamos Barbies e comíamos pizzas. O tempo passou, tia Dadá, mais velhinha ainda, mudou-se para o interior, para ficar com os filhos, e a casa fofa da Vila Mariana deu lugar a um prédio, eu acho. Nunca mais fomos a São Paulo. Nunca mais pensei em São Paulo.

Mas aí, anos depois, o mundo corporativo levou a minha companheira de chocolates quentes e compra de casaquinhos. São Paulo ficou com ares de cidade malvada, cruel, que sapara os amigos da gente. Vai ficar tudo bem, ela disse. Não ficou.

Explico. Tudo começou com a palavra "FIRMA", que ela disse aí embaixo. "Firma"? - eu perguntei. Ela disse que era brincadeira, mas a verdade é que a Ana Luiza carioca está nos últimos suspiros. Eu devia ter lido os sinais no outro dia, no gula-gula, quando ela ficou por demais alterada com as semi-celebridades presentes. Eu, que sou eu, proveniente de Volta Redonda, interiorzão do Rio de Janeiro, aprendi a ter um ar blasé na presença de tão ilustres criaturas. Ela, que cresceu vendo esse pessoal na praia, na escola, no shopping, dá vexame no restaurante. Depois foi aquela história de "pegada". Tô "pegada" agora, peraí. "Pegada"? - eu perguntei. É, ocupada, ela disse. E daí, senhores, foi ladeira abaixo. Balada, se joga, coisas assim, no início de propósito, forçando a barra mesmo, depois mais de brincadeirinha, já sem tanto peso. Até a hora em que balada sai assim, sem alarde, perdida na frase. Se jogando, hein? - eu disse. Ela nem notou. Bolacha para biscoito, guia para calçada, farol para sinal. Holerite. Ho - le - ri - te. Ninguém merece.
O meu medo, o maior de todos, é o do firrrrmeza, mano. É nóis. Paulistas têm mania de chamar as pessoas, de forma carinhosa, pela primeira sílada do nome. Uma Carolina, que podia perfeitamente ser Carol, vira "Cá". Roberta é "Rô", que também serve para Rodrigos ou Robertos, por exemplo. Ana vira "Ã", assim, carinhosamente. Constança vira o que?

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