Ainda antes de sabermos que a estagiária wannabe escrevia tão mal, um outro assunto nos consumia em nossas conversas de msn. Ela era feia, a garota disse, bem feia.

“Quão feia?”, eu perguntei. “Muito mesmo”, ela disse. A questão é que além de ser feia, ela foi dizer para a Ana Luiza que é reservada. E se tem uma coisa que Ana Luiza não é, é reservada. Eu sou reservada. Eu jamais puxaria uma conversa com Jean, imagine, pra ainda por cima ensinar o moleque a pedir uns trocados. Eu iria me sentir mal porque o sistema fez com que ele tivesse menos oportunidades que eu e etc. Ficar mal por alguns segundos e seguir com a vida. Ser reservada nunca me abriu muitas portas. Sou meio cheia de cerimônia com pessoas com quem – se eu fosse mais aberta – eu me daria muito melhor. Ana não. Ana é o oposto de reservada. Ela usa meias coloridas, e me ensinou a usar mais maquiagem. Ela passa blush na cara de qualquer um que esteja meio pálido, assim, sem nem perguntar.

E a garota disse que era reservada. Se ela fosse reservada, apenas, isso não seria um problema. Mas é que, além de reservada, ela parecia a Mortiça Adams. Pele branca, cabelos negros escorridos e divididos ao meio. E feia. Eu ponderei que pessoas feias não podem se dar ao luxo de serem reservadas, porque as coisas são mais difíceis pra elas. Uma pessoa feia tem que ser simpática, engraçada ou inteligente. Senão, já era. Morreu. Adeus.

Sei que essa teoria parece coisa de quem é fútil, mas eu sei bem o que eu falo. Basta perceber por aí como tem muito mais gente bonita sendo mal-educada do que gente feia. Porque quem é bonito não precisa se esforçar para ser aceito, já o é naturalmente. Os feios precisam ser criativos.

Um exemplo advindo do mundo animal, pra explicar melhor: Ana tem 3 cachorros. Três poodles, típicos. Dois deles, o Fred e aquele que eu não sei o nome, são lindos. Poodles de televisão, branquinhos, fofinhos, menores. O outro, o Cookie, é feio. Grande, desengonçado, bem maior que os outros dois. Cookie está perdendo pêlos em algumas áreas do corpo e os pêlos que insistem em permanecer estão ficando avermelhados, meio cor de carne, não sei. Magenta. É um cachorro estranho, fato. Cookie é inteligentíssimo, do tipo que abre portas e tudo. Cookie PRECISA ser inteligente, porque os outros conquistam pela beleza. Cookie precisa ter algo mais. Os outros cachorrinhos, os lindos, não precisam. E é por isso que o Fred já me abocanhou o calcanhar com seus dentes afiados três vezes, e que o outro nem se dá ao trabalho de praticar amizade comigo. Eles são bonitos.

Pessoas bonitas, genuinamente bonitas, não precisam se esforçar. As médias podem ser interessantes, charmosas, engraçadas. As feias podem ser engraçadas, irônicas, e têm que ser inteligentes. Regra. Não tem muita escolha, muita saída.

E então, se a Mortiça lá de cima é feia, reservada e escreve mal, o que fazer por ela? Ela TINHA que escrever bem, fazer um texto arrebatador. Ela não deveria precisar dizer que estava sendo irônica, porque a boa ironia é percebida na hora. Ela deveria ser engraçada, espirituosa. Ao invés de se dizer reservada, poderia se descrever como eu fiz, quando eu era uma wannabe: sou adorável. Eu, que não sou nem um pouco adorável, mas que tenho potencial para sê-lo, ia dizer que sou reservada? Claro que não. Ia dizer que sou louca? Claro que não. Sou adorável.

5 Comments:

  1. Unknown said...
    nao gostei desse post.
    Ana said...
    pq vc é feio?
    Anónimo said...
    "Ela passa blush na cara de qualquer um que esteja meio pálido". Toda e qualquer vontade que eu tinha de conhecer a Ana se acabou com essa declaração. Não quero ninguém passando blush na minha cara por conta da minha cor de parede.
    Mme. Cedilha said...
    2 a 0 para ana luiza
    Anónimo said...
    eu gostei desse post.

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