Quando eu entrei na firma, a garota me pediu um email-descritivo-primeiras-impressões. E eu, lógico, escrevi.

Aí vai:

Well, well, well. Cheguei.
Nono andar. Muitos rostos novos. Cartazes de mulheres peladas disputando espaço com cartazes de lançamento do álbum das princesas. Harmonia.
Duas secretárias. Até agora não entendi bem o porquê de duas secretárias.
A sala do diretor é daquelas bem grandes, e eu, em minha curta experiência profissional ouvi dizer que esse modelo de negócio em que há uma sala enorme para uma única pessoa é coisa do passado. Tendo em vista que essa área - sala do homem - ocupa metade de um andar, e que são 22 andares, e que em cada metade de andar deve haver uma sala desse tamanho, acredito desde já que há um enorme desperdício de espaço neste suntuoso edifício.
Claro que o tamanho da sala e o lance de secretárias em dose dupla, têm a ver com aquela questão clássica de signos e significados. Demodé. Recalqué.
Foi junto à dupla de secretárias que me sentei em meus dois primeiros dias. Eu precisava de computador, email, telefone e mesa. Mais que de amigos, bem mais. E Deus, que é 10, me colocou ao lado de quem eu mais precisava.
A secretária mais antiga, cobra criada, anos e anos de empresa - coisa normal por aqui - não gostou de mim. Eu tenho esse poder que contraria toda a minha adorabilidade e capacidade de amar seres humanos. O fato é que eu rapidamente me aproximei da secretária número dois, que por ser a número dois, é menos solicitada, menos importante, e tem menos amigos. Um prato cheio.
E por ela ser a número dois, só hoje, cinco dias depois, consegui um email.
Fico ao lado da redação da Playboy. O clã fica numa sala pequena, fechada por uma porta em que há um quadrado de vidro. Sempre que passo por lá, dou uma olhada para iniciar uma amizade que pode me levar pelada às bancas deste país, em contrapartida de quaisquer cem mil reais.
A questão é: eles não existem. Lá estão mesas e cadeiras dignas de diretores, vazias. Intrigante.
Não entendo exatamente o que faz cada pessoa, e enquanto eu não souber exatamente o que faz cada pessoa, não me darei por satisfeita. E isso inclui a segunda secretária.
Todos os dias, uma sorte imensa de biscoitos é posta a nossa disposição. Tivemos uma pausa para alongamento e ginástica, além de massagens para os funcionários dia desses na hora do almoço. Tudo me leva a crer que produzir material editorial para revistas é o negócio mais rentável do planeta - e por isso o empenho neste email - ou essa empresa irá a falência em poucos meses.
Preocupo-me com o meu ir e vir neste edifício, quando minha anfetamina se der por encerrada. Nosso crachá, quando aproximado a um sensor, permite que você pegue todos os chocolates, refrigerantes, sorvetes, sucos, salgadinhos, cafés, fandangos, sim, fandangos da lanchonete e saia sem pagar. Basta aproximar o crachá. Acredito que esse conceito tenha sido introduzido pelo R.H., com base numa tese de um estudioso da Estônia, que defende a liberação de tudo que foi reprimido na infância como forma de aumentar a produtividade criativa das pessoas no trabalho.
Sim, aqui trabalham pessoas, não recursos. Muda um pouco o conceito, mas não diminui a encrenca.
Em suma: aqui eu tenho a possibilidade de conseguir uma contra-capa de Playboy. Caso isso não aconteça, posso encher o maracanã de balas juquinhas, e realizar o sonho do meu amigo Diogo.

3 Comments:

  1. Ilma Borges said...
    Duas secretárias?
    Explico. Uma deve ficar no lugar da outra na hora do almoço e na hora de ir no banheiro. Pq para e pensa, se o telefone tocar e não tem gente lá pra atender? Complica.

    Fora esse motivo, não vejo cabimento em duas secretárias.

    =]
    Anónimo said...
    Meu Deus!! Meu sonho. Todas essas besteiras sem pagar.
    Eu ia sair rolando no fim do dia.
    Não q eu já não saia rolando, mas eu ia ficar ainda mais arredondada.
    Anónimo said...
    Então vc vai ser a capa de Abril ?

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