Minha mãe me ligou e disse havia me mandado um e-mail. E uau. É bronca mãe? E eu lá tenho porque te dar bronca menina? É de chorar mãe?

Era. Sempre é de chorar quando ela escreve. E ainda bem que ela escreve. É a herança que me serviu mais que tudo em vida e que ficará para sempre, para sempre e para sempre.

E eu passei um final de semana um pouco insegura. Mas acabou a insegurança. Quem fica insegura com um e-mail desses?

Mas mãe. Esse era meu e-mail do trabalho. Se eu lesse isso no trabalho daria um vexame. Ainda bem que você me avisou.

"
Madame T
No sábado de ontem, em que eu me encontrava completamente igual à própria,
passei o dia em casa, de roupa esfarrapada, quieta, cansada, cansadíssima,
exaurida até as entranhas. Só queria ficar quieta, olhar os cachorros lindos
depois da beauty section, alisá-los, catar as pulgas e carrapatos cíclicos,
ler meus eternos artigos e recortes prometidos, jogar fora aqueles papéis com
resumos bancários e propostas de aplicações jamais feitas, ver novela, gnt,
tomar café. A casa em volta perdeu seu formato, é um mundo de placas de gesso
e tábuas e pedaços de fios e a minha cabeça tem que, aos trancos, vomitar
soluções pros novos arranjos, pensar nas cores, nas flores, nas luzes, ainda
bem que disso eu gosto. O shangrilá é a minha caminha velha, aliás, sempre
foi, e lá eu me recolho e tento colar os cacos dos trancos que a vida sempre
dá, inevitável.
Meio da tarde, pai com fome, produzi miojo com virado de ovo e frango
paulista dormido no freezer, incrivelmente delicioso. Sobremesa de figada
com queijo da estrada que me havia trazido há quase uma semana de Sampa e
deixado minha Madame T no trabalho dando uma de braba, como dizem vocês,
braba é o caralho, que eu sei, mas tem o leitinho das crianças que eu também
sei, pois fiquei até às 3 da manhã lendo o blog, sozinha aqui no CIC,
lutando entre o choro e o riso que Madames T e Ç provocam na alma das mães.
Vontade de beijar muito as duas, de fazer carinho, de dizer como o mundo é
lindo e tem que obviamente sorrir pra duas meninas como essas.
Quem lê inadvertidamente o blog não sabe de nada. Eu sei. Sei com dói tudo
pra quem tem alma como a de vocês. Muuuuuuuito orgulho das duas. Tenho
certeza que Madame Ç vai adorar a casinha e que vocês vão ter um
fim-de-semana ótimo, quem dera estar por perto.
Fui dormir com a angústia de um choro no avião que eu desconhecia, com a
informação de que Madame T não gosta de telefone (acho que eu já sabia), vou
fuçar a casa toda e ver se encontro e me enrosco num possível vestidinho
velho de malha, a cara de Madame T, que ela sempre usou pra ir à praia, à
piscina, pra ficar quieta e ir carpindo as suas dores, será ele o vestido
dos sonhos que sentou na relva sob o sol e sob a sombra? E eu que nunca
soube fazer bolo da fubá....
Amo tanto, tanto, tanto. Duas da tarde. Ainda dormirá a minha criança?"

2 Comments:

  1. Anónimo said...
    Você devia chamar sua mãe para escrever no blog, se você quer saber...
    Anónimo said...
    eu acho que amo a sua mãe um pouco.

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