Peteca é minha carra. Suponho que vocês saibam. Nos tempos da outra firma, Peteca foi salva por Disus do estacionamento que ruiu, na época do buraco do metrô.
Na firma nova, Disus cochilou com a Peteca. Tá prestando mais atenção em mim, é verdade.
O estacionamento da vez: o Paulo que virou Jorge.

Sempre que eu chego, entrego a chave pro Jorge, que diz: bom dia Rio de Janeiro, vai querer o carro pra quiora? Eu digo a hora e sumo enquanto ele some com o carro. Sempre foi assim.

Dia desses fui buscar minha filha para irmos à festa. Tínhamos uma festa da firma para comparecer. Peteca, ciente de que não deveríamos ir, não ligou. Não se manifestou, não arredou pé. Garota esperta que só ela.

Nada pude fazer. Fui de carona. Falei para o Jorge: o carro não liga. Ele me perguntou se eu não queria que ele colocasse o carro na garagem. Disse que queria, mas que se o carro não ligava talvez ele conseguisse levar o carro nas costas para a tal garagem. E deixei a chave com o Jorge.

No dia seguinte fui ver em que situação minha filhota se encontrava. Segundo o Jorge, ela estava na garagem. Disse para eu não levar o carro, pois se ela morresse na rua, eu teria que chamar o reboque. Concordei. Meu pai estava a caminho da cidade grande e ele acabaria com a pirraça. Coisa de vô que sabe o que faz.

Jorge pediu que eu deixasse a carteira de identidade da Peteca para que ele deixasse com o seu Manuel, nome para ser humano inexistente que segundo reza a lenda fica na garagem, para que quando eu fosse retirar o carro, ele checasse o nome da dona do carro e não criasse transtorno.
Me perguntou se eu tinha feito seguro de vida pra Peteca no meio de uma conversa de que era perigoso deixar o carro na rua, e que por isso, tirou a bateria do meu carro, colocou a de outro carro na Peteca, para que ela fosse dormir em paz, na garagem. Que bom Jorge! Não tenho seguro.

Isso foi na quarta. Na quinta, Jorge me liga. Jorge me liga pra dizer que o estacionamento ficaria fechado na sexta-feira e que só abriria na segunda-feira de manhã. Ah é Jorge? Poxa, que pena. Meu pai vai querer ver o carro Jorge!

Bom Jorge, eu avisei. Fomos, eu e meu pai, rumo ao estacionamento fechado. Aberto.
A porra do estacionamento estava aberto. E cadê a minha filha? Sequestrada. Kidnapped.

Alô? Jorge? Eu estou com meu pai aqui no estacionamento aberto e meu carro não está aqui Jorge. Cadê meu carro, o cara? Tá maluco? Cê tá ficando doidão?

Calma Rio de Janeiro, eu to aqui fazendo um serviço em Pinheiros, seu carro está num outro estacionamento, já desço pra buscar pra você.

Ô Jorge, eu quero A-GO-RA. O filho da puta apareceu com o meu carro, lavado, sem o chaveiro na chave, com o chaveiro no porta-luvas, que tinha um tanque cheio de gasolina master mega plus aditivada, vaziinho.

Aí, Jorge ouviu. Mas muito. E amanhã Jorge vai ouvir mais. E eu, sempre muito sorridente, que achava Jorge muito gente boa, vou deixar de ser besta. Parei. Eu custo a crer que as pessoas são assim. Mas são. Uma parte delas é.

Mas Disus, sabe como é. Faz essas coisas pra me alertar. Peteca tá bem, manda beijo pra vocês.

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